
07/10/2025– Mulheres e Inteligência Artificial: fechando o gap de gênero
No artigo MAV de setembro, apresentamos o tema da Inteligência Artificial (IA): por que utilizá-la e alguns exemplos de como essa tecnologia já facilita o dia a dia.
Neste artigo de outubro, seguimos essa conversa, mas agora trazendo dados relevantes sobre a adoção da IA e as diferenças de gênero.
Um dos exemplos de maior impacto vem da justiça dos Estados Unidos. Pesquisas com advogados mostraram que aqueles que utilizaram ferramentas de IA tiveram ganhos expressivos de produtividade em comparação com os que não utilizaram. Esses recursos podem ajudar a reduzir o atual gap do sistema judiciário, principalmente para pessoas de baixa renda que não podem arcar com serviços de advocacia caros e prolongados. Entre as principais aplicações usadas pelos advogados destacam-se:
- Resumir decisões judiciais
- Elaborar argumentos e contra-argumentos
- Realizar pesquisas jurídicas
- Redigir textos e automatizar documentos
- Traduzir conteúdos
No entanto, o estudo também revelou uma diferença significativa entre gêneros: advogados homens têm usado a IA três vezes mais do que advogadas.
O que dizem outros estudos sobre esse gap?
Para entender melhor essa diferença, recorremos a outras fontes.
Um estudo da consultoria BCG (2024), com 6.500 profissionais de empresas de tecnologia, investigou o gap de gênero na adoção de novas tecnologias. Os resultados mostraram que:
- Mulheres em cargos técnicos de alto nível usam mais IA do que seus pares homens — entre 12% e 16% a mais.
- Já em cargos iniciais, tanto técnicos quanto não técnicos, as mulheres usam menos IA que os homens.
- Em funções não técnicas, independentemente do nível hierárquico, as mulheres também usam menos IA, embora a diferença diminua conforme elas avançam na carreira (de 21% menos em cargos iniciais para apenas 2% menos em cargos de gerência sênior).
O estudo investigou cinco fatores de influência na adoção da IA. Dois deles não apresentaram diferença entre homens e mulheres: confiança na tecnologia e competência para usá-la. A disparidade apareceu em três pontos principais:
- Reconhecimento da importância da IA para o futuro do trabalho (15% menor entre mulheres em cargos iniciais).
- Confiança nos próprios skills relacionados à IA (7% menor em cargos técnicos e 11% em não técnicos de níveis iniciais).
- Segurança em usar IA sem políticas claras da empresa (9% menor em cargos técnicos e 16% em não técnicos de níveis iniciais).
Um levantamento de início de 2025, que compilou dados de 18 pesquisas diferentes, mostrou que mulheres têm 22% menos probabilidade de adotar IA em comparação com homens.
As possíveis explicações incluem:
- Maior concentração de homens em áreas como ciência de dados, TI e engenharia de software — onde a IA é testada de forma mais ativa.
- Maior presença de mulheres em setores como saúde, educação e apoio administrativo — onde a adoção de IA tem sido mais lenta.
- Baixa representação feminina em carreiras STEM, o que impacta diretamente a exposição e o uso de novas tecnologias.
Por que reduzir o gap importa?
Diminuir essa diferença é essencial para que as mulheres tenham:
- Mais oportunidades de produtividade e empoderamento.
- Maior presença no mercado de tecnologia.
- Um papel ativo na definição do futuro das aplicações de IA.
O que pode ser feito?
Algumas ações estratégicas para organizações e profissionais incluem:
- Liderança e gestão de mudanças: conectar a IA à estratégia do negócio, comunicar benefícios e valorizar especialmente mulheres que lideram projetos de IA.
- Capacitação direcionada: programas de treinamento adaptados a funções específicas, com tempo para prática e comunidades de aprendizagem.
- Projetos-piloto com IA responsável: criar ambientes seguros de experimentação, com diversidade e inclusão.
- Gestão proativa de carreira: mulheres podem buscar capacitação, se voluntariar para iniciativas de IA e acumular experiência prática.
- Segurança e confiança: empresas devem reforçar práticas de proteção e gestão de dados, reduzindo a desconfiança das mulheres no uso da IA.
- Redução de viés de gênero: aumentar a presença feminina na área de IA pode não só diminuir vieses, mas também dar às mulheres maior protagonismo no futuro da tecnologia.
Apesar do gap atual, há sinais positivos. Um estudo da Deloitte (2024) mostra que as mulheres estão rapidamente recuperando terreno na adoção da IA. A previsão é que, nos EUA, até o final de 2025, o uso de IA por mulheres iguale ou até supere o dos homens — tendência que pode se refletir também em outros países.
O avanço da Inteligência Artificial é inevitável e já está transformando o mundo do trabalho, a forma como nos comunicamos e até os serviços mais básicos da sociedade. No entanto, os dados mostram que ainda existe um gap de gênero significativo na adoção da IA, o que pode limitar não apenas as oportunidades das mulheres, mas também a diversidade de perspectivas necessárias para o desenvolvimento de soluções mais justas e eficazes.
Reduzir esse gap exige ação coordenada entre empresas, líderes e as próprias profissionais. É preciso investir em capacitação, políticas claras, ambientes de experimentação seguros e valorização do protagonismo feminino. Mas também é necessário que cada mulher se veja como parte dessa transformação, buscando conhecimento, confiança e voz nesse campo em rápida evolução.
Se o futuro da tecnologia está sendo desenhado agora, garantir que ele seja inclusivo é responsabilidade de todos nós. Mais mulheres na IA não é apenas uma questão de equidade, é uma oportunidade de construir um futuro mais inovador, humano e sustentável.
Referências:
- AI can narrow justice gap, but women lawyers slower to adopt it, Berkeley study shows | Reuters
- Women Leaders in Tech Are Paving the Way in GenAI | BCG
- Women are 20% less likely to use AI than men — here’s why that gap matters | Tom’s Guide
- Women and generative AI | Deloitte Insights