27/11/2024– Ikigai é um conceito japonês que significa “razão de ser” ou “propósito de vida”. No artigo de hoje, vamos explorar como estar em conexão com o próprio propósito pode gerar mais valor para as organizações e o mundo.
Na metodologia de Liderança Generativa, desenvolvida pelo americano Roberto Dunham, o conceito de Ikigai se traduz em Care. Ambos carregam um significado semelhante: a conexão do indivíduo com algo que o inspira profundamente e o faz vibrar. A Liderança Generativa propõe que uma vida satisfatória está diretamente ligada ao reconhecimento dos próprios Cares — aquelas coisas que são fundamentais para o indivíduo. Além de reconhecê-las, é essencial se comprometer em cuidar dessas coisas que têm verdadeiro significado.
Na MAV, por exemplo, muitas das pessoas que acompanhamos, seja em sessões de coaching individual, equipes, ou outros fóruns, identificam seus filhos e a família como alguns de seus Cares. Outros destacam a importância do autocuidado e da saúde. Esses são apenas exemplos; cada pessoa possui uma lista única de aspectos que são essenciais em sua vida.
Aqui, queremos enfatizar duas ideias principais. Primeiro, o Care não é apenas um conceito mental; ele se manifesta também fisicamente, corporalmente ou somaticamente. Mas o que significa essa conexão física?
Quando alguém diz que algo importante em sua vida é a família, isso vai além de palavras; ao estar realmente conectado(a) com esse Care, essa pessoa experimenta sensações de satisfação, alegria e completude, entre outras respostas físicas e emocionais. Esse estado é frequentemente descrito como Flow. Imagine um momento em que você esteve tão concentrado(a) em uma atividade que o tempo passou sem que você percebesse, ou que esqueceu de necessidades básicas, como comer ou beber água. Esse é o efeito de estar alinhado(a) com o seu Ikigai ou Care.
A segunda consideração sobre o Care é que conhecer o que nos importa é apenas o primeiro passo. A verdadeira satisfação e o estado de Flow surgem quando estamos ativamente cuidando dessas coisas que são essenciais. Por exemplo, uma pessoa que valoriza o autocuidado, mas não encontra tempo para fazer exercícios, dormir bem, ou cuidar de sua saúde preventiva, pode saber que o autocuidado é importante, mas, sem ação, ela permanece desconectada de seu Care. Essa desconexão, embora pareça simples, pode gerar insatisfação, problemas de saúde, dificuldades nos relacionamentos e até mesmo desmotivação no trabalho.
Estar em sintonia com o próprio Care é uma das maneiras mais eficazes de agregar valor ao mundo. Pense em uma pessoa que escolhe a enfermagem porque sente um forte Care em cuidar das pessoas, fazendo com que elas se sintam melhor em momentos difíceis. Quando essa pessoa está trabalhando, ela está em profunda conexão com seu propósito, o que a faz se dedicar com mais atenção e carinho, além de tornar o trabalho mais prazeroso para ela. Em contraste, alguém que escolheu essa profissão por razões práticas, como sustento ou acesso à educação, pode não experimentar o mesmo nível de satisfação e entrega.
Estar em conexão com o próprio Care transforma a maneira como trabalhamos e nos relacionamos com os outros, trazendo mais sentido ao que fazemos e ampliando nosso impacto positivo no mundo.
Quando uma pessoa escolhe trabalhar com enfermagem por motivos econômicos, ela pode estar cuidando de outros Cares importantes ao fazer essa escolha, como prover para a família ou garantir melhores condições de vida e educação para os filhos. Ao se conectar com esse Care mais amplo — o cuidado com a família — ela também encontra maior propósito em seu trabalho, pois enxerga o valor que ele traz para sua vida e para as pessoas que ama.
Nos exemplos acima, temos duas pessoas na mesma profissão, mas com Cares diferentes. A diferença não está no tipo de Care de cada uma, mas na conexão que têm com ele. O que realmente importa é: por que faço o que faço? Ao ter clareza sobre o que estamos cuidando em cada ação, é mais fácil encontrar satisfação e identificar insatisfações, agindo de acordo com o tipo de vida que queremos construir.
Estudos da Gallup revelam que apenas 29% das pessoas no mundo se sentem satisfeitas com suas vidas. Outro levantamento de 2022 mostrou que apenas 23% dos colaboradores na América Latina se sentem engajados no trabalho. Nessa mesma região, 53% das pessoas relatam sentir-se preocupadas diariamente, e apenas 7% disseram que nunca se sentiram desrespeitadas ao longo de um dia de trabalho.
Esses dados mostram a importância de abrir conversas dentro das organizações. Pode parecer que saber o que é importante para cada pessoa seja uma questão pessoal, mas isso impacta diretamente o ambiente profissional. Quando alguém conhece seus Cares, sabe como se conectar e cuidar deles, seus níveis de satisfação com a vida e engajamento com a organização tendem a aumentar.
O que as empresas podem fazer para melhorar o engajamento dos colaboradores? Aqui vão algumas sugestões:
- Promover um ambiente de respeito: Crie um ambiente inclusivo onde as pessoas sintam-se respeitadas, valorizadas e à vontade para compartilhar ideias. O respeito é a base para a construção de um ambiente de confiança e colaboração.
- Definir objetivos claros e compartilhá-los: Não é suficiente que a liderança conheça os objetivos da empresa. Todos devem entender para onde a organização está indo e como ela pretende chegar lá. Metas claras, combinadas com conversas abertas e espaços para que os colaboradores contribuam com ideias e soluções, aumentam o engajamento e o compromisso coletivo.
- Estar atento aos sinais de desmotivação: Realize pesquisas de clima, promova diálogos e crie fóruns de perguntas e respostas com a alta direção para ouvir as preocupações das pessoas. Esses sinais permitem que a empresa atue antes que a desmotivação afete o clima e o desempenho.
- Investir na liderança: A liderança é fundamental para a retenção e o engajamento. Mais de 80% das pessoas que deixam uma organização o fazem por questões relacionadas à liderança. Investir na formação de líderes preparados para manter conversas abertas, lidar com desafios, serem inclusivos e apoiar suas equipes é crucial. Em 2024, a Gallup revelou que 73% dos colaboradores acreditam que a comunicação dos líderes poderia ser melhor, e 71% esperam mais suporte e abertura.
Promover esse tipo de cultura não só aumenta o engajamento, mas também reforça a conexão das pessoas com seus próprios propósitos, criando um ambiente de trabalho mais satisfatório e produtivo para todos.
Conectar-se com o que é importante para cada indivíduo (seu Care) não só promove satisfação pessoal, mas também fortalece o alinhamento com seu propósito de vida (Ikigai) — especialmente em um mundo onde o trabalho é um elemento significativo nesse caminho. As organizações que fomentam esse tipo de diálogo com seus colaboradores sairão fortalecidas, contando com pessoas mais engajadas, motivadas e conectadas com o propósito coletivo.
Referências:
- Ikigai – Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz (2018)
- https://psicologiaymente.com/cultura/ikigai
- https://www.psicologia-online.com/ikigai-significado-y-como-aplicar-este-metodo-japones-de-felicidad-4550.html
- https://es.wikipedia.org/wiki/Ikigai
- https://fastcompanybrasil.com/news/apenas-21-dos-funcionarios-se-sentem-engajados-no-trabalho-segundo-estudo-gallup/
- https://www.gallup.com/workplace/229424/employee-engagement.aspx
- https://www.gallup.com/394505/indicator-life-evaluation-index.aspx
- https://www.gallup.com/404252/indicator-leadership-management.aspx
- The Innovator’s Way – Essential Practices for Successful Innovation – Robert Dunham