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Artigo MAV: Liderança Feminina

    10/09/2024– A liderança feminina é uma parte importante da nossa realidade, mas ainda há desafios significativos para que as mulheres ocupem mais posições de liderança em organizações e instituições. Identificar as oportunidades de melhoria que podem ajudar as mulheres a progredir e avançar é crucial para as empresas, pois orienta onde investir tempo e recursos. Neste artigo, apresentamos uma análise dos resultados da pesquisa anual da Deloitte sobre mulheres no trabalho, destacando o que consideramos mais relevante do ponto de vista da inclusão feminina nas organizações.

    Na pesquisa divulgada em 2024, as mulheres relataram uma deterioração nas questões laborais relacionadas ao gênero, incluindo a igualdade salarial e a flexibilidade de horários, além de questões sociais, como o direito ao voto. As principais preocupações das mulheres este ano são os direitos das mulheres, a segurança física e a saúde mental.

    Os indicadores de burnout parecem ter diminuído em comparação com anos anteriores. 25% das mulheres entrevistadas relataram estar em burnout, contra 30% em anos anteriores, e mais mulheres disseram ter recebido suporte de seus empregadores sobre o tema, passando de 40% em 2023 para 43%. No entanto, apenas um terço das mulheres se sente confortável em discutir esses assuntos com seus empregadores.

    Apesar dessa melhora, os níveis de estresse entre as mulheres continuam elevados, com 50% relatando altos níveis de estresse. Esse percentual é ainda maior entre mulheres de minorias étnicas, chegando a 60%. Apenas 33% das mulheres se sentem à vontade para falar sobre o tema com suas empresas, e esse número diminui para 24% entre mulheres de minorias étnicas.

    As principais razões para evitar essas conversas incluem o medo de prejudicar a progressão na carreira (20%), preocupação com discriminação ou retaliação (14%), e receio de ser demitida (12%). Além disso, 10% mencionaram más experiências passadas ao abordar questões de saúde mental com seus empregadores como uma razão para não voltar a tentar relatar o tema.

    Um 33% das mulheres têm tirado tempo livre para tratar de questões de saúde mental. Em caso de mulheres de minorias étnicas este % aumenta para 46%.

    O relatório também revela que o excesso de trabalho e as horas extras estão diretamente associados à saúde física e mental das mulheres. Aquelas que trabalham apenas as horas necessárias apresentam indicadores significativamente melhores de saúde mental e física em comparação com aquelas que fazem horas extras. Esse desequilíbrio também afeta a lealdade ao empregador, bem como a motivação e a produtividade.

    Infelizmente, em nossa cultura, onde a produção é frequentemente vista como a principal métrica de sucesso, há uma tendência a confundir produtividade com a quantidade de horas trabalhadas, como se agregar valor fosse diretamente proporcional ao tempo dedicado ao trabalho. Se fôssemos máquinas, talvez essa relação fosse válida. No entanto, no caso dos seres humanos, quem agrega mais valor é aquela pessoa motivada, com um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, e que está bem física e mentalmente. Trabalhar mais horas não significa necessariamente ser mais produtivo; o verdadeiro valor está em atingir resultados de forma eficaz e sustentável.

    Em relação às atividades domésticas, 50% das mulheres afirmaram ser as principais responsáveis pelos cuidados com os filhos, enquanto 26% relataram uma divisão de tarefas com seus parceiros/as. A responsabilidade pelo cuidado de adultos maiores recai sobre as mulheres em 57% dos casos. Quanto às tarefas domésticas gerais, 41% das mulheres assumem sozinhas, com apenas 19% das famílias realizando uma divisão igualitária dessas tarefas.

    Uma observação importante da pesquisa é que apenas as tarefas domésticas gerais têm recebido investimento em ajuda externa, com 18% das famílias contratando assistência para essas atividades. Por outro lado, para cuidados com filhos e adultos/idosos, a contratação de ajuda externa ocorre apenas em 1% a 2% dos casos.

    Comparado com o reporte de 2023, houve uma piora na divisão das tarefas domésticas, resultando em uma maior carga sobre as mulheres e uma diminuição na divisão igualitária. O aumento da inflação e a redução do poder aquisitivo podem ter contribuído para essa situação, resultando em maior sobrecarga para as famílias e, consequentemente, para as mulheres.

    Esse ponto é crucial, pois a sobrecarga doméstica impacta diretamente a saúde mental das mulheres e sua capacidade de se desconectar das responsabilidades com os outros para cuidar de si mesmas. Apenas 23% das mulheres que assumem a maior parte das responsabilidades domésticas afirmaram conseguir se desconectar e cuidar de sua própria saúde física e mental.

    As mudanças de empresa aumentaram em comparação com anos anteriores, com 16% das mulheres mudando de trabalho no último período. As principais razões para essas mudanças foram, em primeiro lugar, salários e benefícios abaixo das expectativas, seguido por um desequilíbrio entre vida pessoal e profissional e falta de flexibilidade de horários. Uma questão adicional que chamou atenção no relatório deste ano é o aumento de 5% nos casos de abuso e agressões no ambiente de trabalho em comparação com 2023. Além disso, a falta de mulheres em posições de liderança como modelos de referência também se destacou, apresentando um crescimento de 12% em relação ao ano passado.

    Esse último fator é significativo porque reflete a mensagem que as organizações transmitem às mulheres que desejam crescer e melhorar suas condições de trabalho. Quando as oportunidades de liderança são predominantemente ocupadas por homens, as mulheres percebem uma falta de oportunidades e alinhamento com seus objetivos. Ao mesmo tempo, as mulheres estão deixando claro para as empresas o que buscam em suas carreiras. Elas indicam que não estão dispostas a aceitar cargos de liderança que não ofereçam equilíbrio entre vida pessoal e profissional, que estejam em desacordo com seus valores ou que exponham a questões de abuso, bullying e outros problemas que afetam sua saúde mental e segurança física.

    Se analisarmos os resultados deste relatório, podemos obter uma diretriz clara sobre como melhorar a atração, retenção e desenvolvimento das mulheres em nossas organizações. É fundamental estar atento às necessidades das mulheres para que possam continuar crescendo e avançando. O relatório não indica que elas não estejam dispostas a assumir mais responsabilidades; pelo contrário, mostra que elas precisam de apoio para fazê-lo.

    Ser uma organização verdadeiramente inclusiva significa reconhecer e valorizar as diferenças, refletindo a diversidade da comunidade que servimos. No Brasil, onde a população é composta por metade de mulheres e metade de pessoas negras e pardas, é crucial que essas demografias tenham oportunidades iguais de participar e prosperar em nossas organizações.

    Para alcançar isso, devemos escutar as necessidades dessas pessoas e implementar iniciativas, políticas e ações que promovam sua inclusão. A importância disso reside no fato de que empresas com maior diversidade de líderes e colaboradores são mais capazes de refletir as necessidades de diversas comunidades e consumidores. Isso amplia a capacidade de inovação e aprimora produtos e serviços, trazendo vantagens competitivas significativas.

    Referências:

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