13/08/2024– Você já ouviu falar de Institutional Neutrality? A primeira vez que ouvi esse termo foi em uma reunião sobre Diversidade, Equidade e Inclusão fora do ambiente corporativo. Inicialmente, não compreendi seu significado, pois vivemos em um contexto em que a neutralidade parece ser algo em declínio. Tanto organizações quanto figuras públicas e o público em geral costumam ter posições bem definidas sobre diversos temas. Basta acessar as redes sociais para constatar essa realidade.
O termo Institutional Neutrality ganhou atenção recentemente devido às polêmicas em 2023 sobre as cotas nas universidades dos Estados Unidos. As universidades enfrentaram críticas por se posicionarem contra as cotas, sendo acusadas de desrespeitar questões de Equidade e Inclusão. O termo foi cunhado em 1967, por meio de um relatório chamado Kalven Report, publicado pela Universidade de Chicago. Naquela época, a necessidade de criar uma política de neutralidade surgiu para evitar posicionamentos sobre a Guerra do Vietnã.
Na prática, o termo Institutional Neutrality significava que as instituições de ensino não deveriam se posicionar sobre temas políticos, pois essa era a única forma de manter a missão intrínseca dessas instituições, segundo seu elaborador: permitir o debate de ideias e proporcionar aos alunos a oportunidade de formarem suas próprias opiniões. Em suas próprias palavras: “to pursue truth through “the discovery, improvement, and dissemination of knowledge.” (Kalven Report)
O que as cotas têm a ver com Equidade e Inclusão? Em muitos países, a desigualdade persiste de maneira sistêmica, juntamente com outras barreiras de acesso. Um dos maiores impulsionadores de mudança na vida de um indivíduo é o acesso à educação. Quando uma pessoa tem acesso à educação, ela pode transformar sua própria vida e a de sua família. No entanto, as oportunidades geralmente são oferecidas às mesmas pessoas, pertencentes a determinadas raças e condições sociais. As cotas foram criadas para proporcionar oportunidades a pessoas de comunidades menos privilegiadas, que de outra forma não teriam acesso à educação superior.
A discussão sobre a possível eliminação dessas cotas nas instituições de ensino superior dos Estados Unidos abriu um debate mais amplo sobre Diversidade. Se o acesso não é equitativo, a diversidade não se manifesta nessas instituições. Infelizmente, o sistema social muitas vezes impede um acesso equitativo, e as cotas foram uma forma de corrigir uma injustiça social ou, pelo menos, reduzir uma barreira.
Por outro lado, há quem alegue que as cotas não promovem inclusão, pois alguns se sentem excluídos desse sistema ao não serem beneficiados por ele.
Os defensores da Neutralidade argumentam que, se um líder universitário se pronuncia em nome da instituição, pode não representar a totalidade de sua comunidade, pois é difícil que todos concordem com uma única posição. Por outro lado, os críticos da extinção do sistema de cotas afirmam que essas instituições, ao defenderem a neutralidade, estão evitando discutir um tema crucial. Assim, estariam contradizendo seu próprio princípio de que as instituições de ensino têm um papel fundamental em promover debates abertos e significativos.
Nos últimos meses, mais instituições de ensino aderiram à Neutralidade Institucional, impulsionadas pelos debates e declarações públicas de membros e altos executivos sobre a Guerra em Israel.
Em contraste, a tendência nas organizações corporativas, multinacionais e empresas ainda é expressar suas opiniões e posições em relação a temas de Diversidade, Equidade e Inclusão. Para os colaboradores dessas empresas, a posição da empresa nesses assuntos é um fator importante na hora de escolher onde trabalhar. As novas gerações que chegam ao mercado de trabalho também valorizam políticas e práticas diversas. Acreditamos que a adoção da Neutralidade Institucional por essas instituições pode representar um retrocesso na atração e retenção de talentos.
Referências: