10/07/2024– Embora muitos escritos, como o livro de Michelle Obama “Nossa Luz Interior”, abordem o tema do privilégio, frequentemente não lhe dedicamos a atenção devida. No artigo de hoje, buscamos explicar e aprofundar essa discussão, entendendo seu significado e importância para trabalhar com a diversidade e inclusão.
De acordo com um documento de 2022 da Universidade Cornell, a identidade social de uma pessoa não é intrínseca, mas socialmente construída, moldada pelo contexto de nascimento e época histórica. Algumas destas identidades são a raça, gênero, a classe social, orientação sexual, e outras, algumas visíveis (como raça) e outras não (como classe social ou orientação sexual).
Beverly Tatum (2017, citada pela Cornell) afirma que nossa identidade social impacta profundamente como nos vemos e como somos vistos pelos outros. Ela enfatiza que a identidade é culturalmente determinada, não sendo inata ou intrínseca ao indivíduo. Isso significa que nossa identidade é complexa e multifacetada. Pertencemos a diversos grupos sociais e para entender verdadeiramente um indivíduo, precisamos contextualizá-lo e considerar todas as suas identidades (Interseccionalidade).
A interseccionalidade, conceito emprestado do campo jurídico, ajuda a entender a complexidade humana, especialmente para aqueles que não se enquadram na normatividade hetero-patriarcal (homem, branco, heterossexual). Ser uma mulher não é o mesmo que ser uma mulher negra, ou uma mulher negra homossexual.
O conceito de Privilégio também é crucial para compreender nossas identidades. Ele reflete a organização e sistemas sociais que determinam quem tem poder e acesso. É parte de como a sociedade está organizada em determinada cultura e, portanto, se descreve como algo naturalmente entregue a alguém somente pelo fato de pertencer a uma categoria dominante naquela sociedade. No Brasil, é evidente que pessoas brancas, do sexo masculino e heterossexuais possuem mais privilégios, acesso e poder. Estatísticas simples confirmam essa disparidade, como o baixo número de mulheres em cargos executivos e a sub-representação de pessoas pardas em cargos de liderança. Embora 51,5% da população seja do sexo feminino apenas 28% das mulheres estão em cargos executivos; embora 45,3% da população seja parda apenas 22% estão em cargos de liderança. Esses números têm uma implicação na forma como estão distribuídos os recursos econômicos, os acessos ao sistema de educação e saúde no país.
O privilégio determina o lugar de um indivíduo na sociedade e contexto específico. Por exemplo, um homem negro no Brasil pode ter privilégio de gênero, mas não de raça. Já uma mulher negra no Brasil não tem privilégios nem de gênero, nem de raça. Além disso, esses privilégios podem variar conforme a cultura. Por exemplo, um homem negro brasileiro pode ter privilégios tanto de raça quanto de gênero ao visitar a Nigéria, mas não teria privilégio por sua orientação sexual se fosse homossexual.
Compreender as raízes do privilégio em nossas sociedades nos ajuda a entender as comunidades sub-representadas e destacar oportunidades para mudar essas dinâmicas de poder. Quando uma empresa cria sistemas para promover acesso de mulheres, pessoas LGBTQIA+ e pessoas negras a cargos de liderança, ela está contribuindo para uma distribuição mais equitativa de acesso à educação, saúde e mercado de trabalho no Brasil.
Referências:
- Este artigo foi criado com base no estudo da Cornell sobre Identidade Social e Privilégio de 2022.
- Tatum, B. (2017). Why are all the black kids sitting together in the cafeteria? NY: Basic Books.
- Michelle Obama- Nossa Luz Interior
- Interseccionalidade – https://pt.wikipedia.org/wiki/Interseccionalidade
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Kimberl%C3%A9_Williams_Crenshaw