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Artigo MAV: Ser mulher no Brasil

    15/07/2025Ser Mulher no Brasil: O que dizem os números em 2025?

    É comum ouvir a pergunta: “Por que ainda estamos falando sobre equidade de gênero e a situação das mulheres?” Muitas vezes, a justificativa vem acompanhada da ideia de que homens e mulheres já estão em pé de igualdade. Essa afirmação, embora popular, é precipitada e desconsidera dados concretos sobre a realidade.

    Um estudo recente divulgado pelo Ministério das Mulheres, em 2025, revela justamente por que essa percepção está equivocada. Para começar, o simples fato de existir um ministério voltado exclusivamente para questões relacionadas às mulheres já é um indicativo claro de que a equidade ainda não foi alcançada. Se houvesse igualdade plena, estruturas como essa não seriam necessárias.

    Além disso, é importante refletir sobre um ponto fundamental: lutar por direitos iguais não significa tirar direitos de ninguém. Um exemplo simples ajuda a ilustrar: quando um casal homoafetivo reivindica o direito de se casar ou adotar uma criança, está apenas pedindo que esse direito seja estendido a eles — em nenhum momento isso significa retirar o direito de casais heterossexuais.

    Portanto, antes de concluir que já há igualdade, precisamos observar com atenção os dados — eles contam a verdadeira história da mulher no Brasil. Vamos a eles?

    No Brasil, mais da metade da população é composta por mulheres. Dentre elas, 50% são adultas entre 25 e 59 anos. Embora representem a maioria, os dados revelam que ainda enfrentam importantes desigualdades sociais, econômicas e de acesso.

    A taxa de alfabetização entre mulheres indígenas é de 84,3%, enquanto entre as mulheres quilombolas é de 82,9%, evidenciando as desvantagens históricas e estruturais que esses grupos enfrentam.

    O estudo do Ministério das Mulheres (2025) mostra também que as mulheres continuam a ser a principal responsável pelos lares em todo o país: são 40,2 milhões de domicílios sob sua responsabilidade, contra 37,5 milhões liderados por homens.

    Entre as 18,6 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, 10,7 milhões são mulheres e 7,9 milhões são homens. Essa sobrerrepresentação feminina se deve, em grande parte, à maior expectativa de vida das mulheres e à predominância feminina entre pessoas idosas, que geralmente apresentam mais dificuldades funcionais. As mulheres com deficiência que conseguem se inserir no mercado de trabalho o fazem, majoritariamente, em condições mais vulneráveis: como trabalhadoras por conta própria (31%) e trabalhadoras domésticas (18,8%). Isso se reflete diretamente na renda: elas recebem menos que a média das mulheres em geral — ou seja, se já existe uma diferença salarial entre homens e mulheres, ela é ainda mais acentuada entre homens e mulheres com deficiência.

    Em 2023, dos 7,3 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não estudavam, não estavam empregados e não buscavam trabalho, 69,5% eram mulheres, sendo 48,5% pretas ou pardas e 55,6% tinham entre 18 e 24 anos. Esses dados apontam para uma exclusão precoce, marcada por desigualdades de gênero e raça.

    A nova Lei de Igualdade Salarial busca corrigir parte dessas distorções, garantindo que mulheres e homens recebam o mesmo salário por trabalho de igual valor. No entanto, segundo o Relatório de Transparência Salarial (1º semestre de 2024), as mulheres recebiam em média R$ 3.565 — apenas 79,3% do salário médio dos homens (R$ 4.495). A menor diferença salarial foi registrada na Região Nordeste (14%), enquanto a maior ocorreu na Região Sul, onde mulheres recebiam 25,9% a menos que os homens.

    Dos 31,6 mil estabelecimentos que participaram do relatório, apenas:

    • 35,3% possuíam políticas de incentivo à contratação de mulheres,
    • 27,9% para mulheres negras,
    • 24,3% para mulheres com deficiência,
    • 21,9% para mulheres chefes de família.

    Além disso, apenas 38,8% adotavam políticas para promoção de mulheres a cargos de liderança e 22,9% ofereciam auxílio-creche. Os números evidenciam que ainda é limitada a presença de ações estruturadas voltadas à equidade de gênero e suas interseccionalidades no setor privado.

    A situação torna-se ainda mais alarmante quando olhamos para os dados de violência. Segundo registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/MS), 60,4% das violências notificadas contra mulheres adultas (20 a 59 anos) foram contra mulheres pretas ou pardas, enquanto 37,5% atingiram mulheres brancas. Isso evidencia a sobreposição de vulnerabilidades enfrentadas por mulheres negras, fruto de desigualdades históricas de raça, gênero e classe.

    Em 76,6% dos casos de violência doméstica, sexual ou outras formas de agressão, o agressor era homem. E, em 71,6% dos casos, a violência aconteceu dentro de casa — reforçando o dado chocante de que o ambiente doméstico, que deveria ser espaço de proteção, é para muitas mulheres um lugar de risco e dominação.

    Dentre os tipos de violência mais registrados:

    • 32,6% foram violências psicológicas;
    • 29,7% violências físicas.

    Entre 2015 e 2024, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, foram registradas:

    • 11.650 feminicídios,
    • 29.659 homicídios dolosos e lesões corporais seguidas de morte de mulheres.

    No campo político, embora haja avanços tímidos, as mulheres ainda são minoria. Em 2024, 15,3% das candidaturas a prefeituras foram de mulheres — um leve aumento em relação a 2020 (13,7%). Contudo, a taxa de sucesso nas eleições foi maior: 30,6% das candidatas elegeram-se. Ainda assim, a desigualdade racial se mantém: segundo o TSE, 59% das mulheres eleitas em todos os cargos eram brancas, enquanto pretas e pardas representaram 40% das eleitas

    Os dados mostram com clareza: ser mulher no Brasil ainda significa enfrentar uma série de barreiras e vulnerabilidades que se agravam quando gênero se cruza com outros marcadores como raça, deficiência, idade ou condição social. A busca por equidade exige políticas públicas consistentes, compromisso institucional e, acima de tudo, consciência coletiva de que os direitos das mulheres dizem respeito a toda a sociedade.

     

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